Histórias da Geologia

Este blog pretende ser um espaço de reflexão sobre a evolução do conhecimento geológico ao longo dos tempos, principalmente a partir do século XVII, não esquecendo porém as pequenas histórias que fazem a grande história

domingo, abril 16, 2006

500 anos sobre o massacre de 4 000 judeus em Lisboa


“Von dem Christeliche / Streyt, kürtzlich geschehe / jm. M.CCCCC.vj Jar zu Lissbona / ein haubt stat in Portigal zwischen en christen und newen chri / sten oder juden , von wegen des gecreutzigisten [sic] got.” (“Da Contenda Cristã, que Recentemente Teve Lugar em Lisboa, Capital de Portugal, Entre Cristãos e Cristãos-Novos ou Judeus, Por Causa do Deus Crucificado”)

Do blogue Rua da Judiaria, de Nuno Guerreiro, retirámos o seguinte texto: 'Vai fazer exactamente 500 anos, nos dias 19, 20 e 21 de Abril, que um cataclismo se abateu sobre Lisboa. A alma da Capital do Império sofreu um abalo tão grande – senão mesmo maior – quanto aquele que a haveria de destruir em 1755. Durante três dias, em nome de um fanatismo sanguinário, mais de 4 mil pessoas perderam a vida numa matança sem precedentes em Portugal.Como vozes que teimam em emergir de entre as poeiras da História, cronistas como Damião de Góis e Samuel Usque deixaram relatos detalhados dos motins sangrentos (...).

Esta data, de triste lembrança, faz-nos recordar que também após o terramoto de 1531 o pânico que se instalara em Lisboa e região de Santarém fez com que estivesse eminente um novo levantamento contra os cristãos novos, acusados desta vez de estarem na origem do terramoto, por continuarem a judaizar.

Gil Vicente, em carta que enviou de Santarém a El-Rei D. João III, após o terramoto, afirma o seguinte: 'Os frades de cá não me contentaram, nem em púlpito nem em prática, sobre esta tormenta da terra que ora passou, porque não abastava o espanto das gentes, mas ainda eles lhes afirmavam duas coisas, que os mais fazia esmorecer. A primeira , que, pelos grandes pecados que em Portugal se faziam, a ira de Deua fizera aquilo, e não que fosse curso natural, nomeando logo os pecados por que fora; em que pareceu que estava neles mais soma de ignorância que de graça do Espírito Santo. O segundo espantalho, que às gentes puseram, foi que, quando aquele terramoto partiu, ficava já outro de caminho, senão quanto era maior e que seria com eles á quinta-feira, uma hora depois de meio-dia. '