Histórias da Geologia

Este blog pretende ser um espaço de reflexão sobre a evolução do conhecimento geológico ao longo dos tempos, principalmente a partir do século XVII, não esquecendo porém as pequenas histórias que fazem a grande história

segunda-feira, abril 10, 2006

Kirkpatrick na ilha de Porto Santo


A última entrada que fiz remeteu-me para um texto de Stephen Jay Gould, inserido no livro Polegar do Panda, e intitulado 'O velho louco Randolph Kirkpatrick', em que o autor refere sobre este naturalista o seguinte:

'O destino usual de um excêntrico é o esquecimento, e não a infâmia. Ficarei mais do que medianamente surpreendido se qualquer leitor (que não seja um taxonomista profissional com interesse especial em esponjas) puder identificar Randolph Kirkpatrick.
À primeira vista, Kirkpatrick adapta-se ao estereótipo de um apagado, urbano, dedicado, mas levemente excêntrico, zoólogo britânico. Conservador-assistente do sector invertebrados «inferiores» no Museu Britânico , de 1886 até à sua reforma, em 1927, Kirkpatrick estudou Medicina, mas decidiu-se por uma «carreira menos esforçada» na História Natural, após vários períodos de doença. Escolheu bem, já que viajou por todo o mundo em busca de espécimes e viveu até aos 87 anos.' (p. 255)

Mas, a parte que mais me interessou ao reler este texto foram as suas investigações em Porto Santo:

'Em 1912, Kirkpatrick encontrava-se a reunir esponjas na ilha de Porto Santo, do arquipélago da Madeira. Um dia, um amigo trouxe-lhe algumas rochas vulcânicas retiradas de um cume, 350 metros acima do nível do mar. Kirkpatrick descreveu a sua grande descoberta: «Examinei-as cuidadosamente sob o meu microscópio binocular e, para meu espanto, encontrei traços de discos numulíticos em todas elas. No dia seguinte visitei o local de onde provinham os fragmentos»' (p. 256)

Mais à frente, Gould reproduz outra estranha afirmação de Kirkpatrick:

'Após a descoberta da natureza numulítica de quase toda a ilha de Porto Santo, das construções, lagares de vinho, solo, etc., o nome Eozoon portosantum pareceu-me bem adaptado para os fósseis (Eozoon significa «animal primevo»), mas quando as rochas ígneas da Madeira foram do mesmo modo identificadas como numulíticas, Eozoon atlanticum pareceu-me um nome mais apropriado'. (p. 257)