Histórias da Geologia

Este blog pretende ser um espaço de reflexão sobre a evolução do conhecimento geológico ao longo dos tempos, principalmente a partir do século XVII, não esquecendo porém as pequenas histórias que fazem a grande história

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Mitos e erupções vulcânicas


São diversos os mitos gregos e romanos relacionados com actividade vulcânica, alguns deles apropriados e alterados posteriormente pelo cristianismo contribuiram para transmitir e perpetuar a ideia de um fogo subterrâneo, o inferno tantas vezes citado pelos autores da Idade Média. O Monte Etna foi frequentemente identificado como a porta de entrada para esse abismo, utilizando-se a expressão “navegando para a Sicília” como uma forma eufemística de se aludir à ida para o inferno.

Tradicionalmente pretendeu-se, quase sempre, estabelecer uma separação entre mythos e logos. Ao último caberia o relato racional, analítico e verdadeiro dos factos e por consequência deveria ser o único suporte do conhecimento científico. Porém, o logos e o mythos estiveram muitas vezes juntos nas primeiras cosmogonias. O homem antes de usar a razão serviu-se da observação e da fantasia para interpretar os fenómenos naturais. Por isso, os mitos não devem ser considerados unicamente como um conjunto de histórias, mais ou menos fantásticas. Embora a ciência por definição se encontre associada ao raciocínio lógico, oposto à narrativa mítica, começam a existir historiadores das ciências que consideram que os mitos criados por antigas civilizações podem, muitas vezes, ser analisados como um registo das primeiras tentativas de ordenar e explicar a natureza.

Os mitos gregos e romanos associam as erupções vulcânicas a deuses como Plutão, Persephone, Hefaístos, Vulcano, às ciclopedes e aos terríveis Titãs. Os Titãs eram criaturas gigantescas aprisionadas no interior da Terra cuja actividade gerava erupções vulcânicas terríveis. Um dos mais conhecidos foi Thyphon, filho de Gaia a mãe Terra e de Zeus. Thyphon revoltou-se contra o pai por este o ter prendido no interior do Monte Etna. Por sua vez, Virgilio refere-se a Encelade, um gigante que se revoltou contra os deuses e que Athena mandou enterrar sob o Etna. Fenómenos associados ao vulcanismo também foram interpretados como resultado da fúria de Encelade: os sismos são os seus sobressaltos, os ruídos a sua voz suplicante e as erupções a sua respiração incandescente e flamejante.