Cândido e o terramoto de Lisboa
Foi lançado no dia 23 de Abril, dia internacional do livro, uma nova tradução de Candide, ou l'Optimisme de Voltaire. A tradução é de Rui Tavares, o autor do Pequeno Grande Livro sobre o Grande Terramoto, a que já antes fiz referência. A edição muito cuidada, da 'Tinta da China', inclui também notas e um pequeno estudo.
A minha curiosidade por esta obra está relacionada com o facto do terramoto de 1755 ser um elemento importante na trama construída por Voltaire. Cândido e o filósofo Pangloss, depois de uma longa série de problemas, naufragam à entrada do porto de Lisboa, precisamente depois do grande terramoto de 1 de Novembro, o que tem como consequência que ao chegarem a terra se vissem envolvidos num novo conjunto de peripécias:
'Alguns pedaços de pedra tinham ferido Cândido; estava estendido na rua e coberto de entulho. Pedia a Pangloss: «Ai de mim! acha-me um pouco de vinho e azeite; vou morrer. - Este terramoto não é coisa nova, respondeu Pangloss; a cidade de Lima passou pelos mesmos abalos na América o ano passado; mesmas causas, mesmos efeitos: há certamente um filão de enxofre subterrâneo desde Lima até Lisboa. - Nada de mais provável, disse Cândido; mas, por amor de Deus, um pouco de vinho e azeite. - Como, provável? replicou o filósofo, defendo que é coisa provada.» (p. 29)
Toda a obra está imbuída de um espírito de crítica às correntes filosóficas optimistas de Alexander Pope e G. Leibniz. Voltaire foi impulsionador de um movimento anti-optimismo, que é colocado especialmente em evidência no Poema sobre o desastre de Lisboa:
Oh! desgraçados mortais, oh! lastimável terra;
Oh! reunião medonha de todas as calamidades;
De insuperáveis dores eterno entretenimento!
Iludidos filósofos que gritais tudo está bem:
Vinde, contemplai estas ruínas medonhas
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