Histórias da Geologia

Este blog pretende ser um espaço de reflexão sobre a evolução do conhecimento geológico ao longo dos tempos, principalmente a partir do século XVII, não esquecendo porém as pequenas histórias que fazem a grande história

sábado, fevereiro 25, 2006

Museus online

O Museum of the History of Science (Universidade de Oxford) tem várias exposições online que podem ser visitadas no seguinte endereço http://www.mhs.ox.ac.uk/exhibits/

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

National Geographic - Terramoto de Lisboa

A National Geographic portuguesa também se juntou às comemorações dos 250 anos do Terramoto de Lisboa, com a publicação de um trabalho muito bem ilustrado o qual que pode ainda ser observado, em parte, no seu site.

O gigante Encelade


De acordo com Virgílio, o gigante Encelade que se tinha revoltado contra os deuses, tendo por isso sido enterrado sob o Etna pela deusa Athéna, seria o principal responsável por erupções vulcânicas e tremores de terra.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Mitos e erupções vulcânicas


São diversos os mitos gregos e romanos relacionados com actividade vulcânica, alguns deles apropriados e alterados posteriormente pelo cristianismo contribuiram para transmitir e perpetuar a ideia de um fogo subterrâneo, o inferno tantas vezes citado pelos autores da Idade Média. O Monte Etna foi frequentemente identificado como a porta de entrada para esse abismo, utilizando-se a expressão “navegando para a Sicília” como uma forma eufemística de se aludir à ida para o inferno.

Tradicionalmente pretendeu-se, quase sempre, estabelecer uma separação entre mythos e logos. Ao último caberia o relato racional, analítico e verdadeiro dos factos e por consequência deveria ser o único suporte do conhecimento científico. Porém, o logos e o mythos estiveram muitas vezes juntos nas primeiras cosmogonias. O homem antes de usar a razão serviu-se da observação e da fantasia para interpretar os fenómenos naturais. Por isso, os mitos não devem ser considerados unicamente como um conjunto de histórias, mais ou menos fantásticas. Embora a ciência por definição se encontre associada ao raciocínio lógico, oposto à narrativa mítica, começam a existir historiadores das ciências que consideram que os mitos criados por antigas civilizações podem, muitas vezes, ser analisados como um registo das primeiras tentativas de ordenar e explicar a natureza.

Os mitos gregos e romanos associam as erupções vulcânicas a deuses como Plutão, Persephone, Hefaístos, Vulcano, às ciclopedes e aos terríveis Titãs. Os Titãs eram criaturas gigantescas aprisionadas no interior da Terra cuja actividade gerava erupções vulcânicas terríveis. Um dos mais conhecidos foi Thyphon, filho de Gaia a mãe Terra e de Zeus. Thyphon revoltou-se contra o pai por este o ter prendido no interior do Monte Etna. Por sua vez, Virgilio refere-se a Encelade, um gigante que se revoltou contra os deuses e que Athena mandou enterrar sob o Etna. Fenómenos associados ao vulcanismo também foram interpretados como resultado da fúria de Encelade: os sismos são os seus sobressaltos, os ruídos a sua voz suplicante e as erupções a sua respiração incandescente e flamejante.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

História da Ciência e Ensino das Ciências I

Se pensarmos a aprendizagem como um processo que coloca em contacto de um lado um professor, que desenvolveu um certo número de materiais e estratégias didácticas, isto é, um projecto para ensinar um determinado saber, e do outro lado, um aluno com ideias, desejos, interesses e capacidades próprias, apercebemo-nos facilmente que é condição primária para qualquer aprendizagem que se estabeleça, a nível da comunicação, um certo número de “pontes”. A tarefa do professor deverá ser portanto procurar os pontos de apoio necessários ao início do processo de aprendizagem, isto é, onde suportar as referidas “pontes”, em simultâneo, com a procura, de forma continuada e aberta, de “novas entradas”, ou seja, novas formas de apresentação do saber.

A história da ciência pode ser uma ferramenta útil na consecução destes dois tipos de objectivos. Um bom conhecimento da história de uma disciplina científica deve permitir ao professor identificar as ideias que em determinados momentos dificultaram o progresso da ciência, os “obstáculos epistemológicos” segundo Bachelard, e deste modo ficar possuidor de um conhecimento que o vai ajudar a interpretar as dificuldades dos alunos. Este tipo de objectivo didáctico poderá encontrar numa história influenciada por uma perspectiva descontinuista uma resposta mais imediata. Mas, se a preocupação do docente já estiver orientada para a sequência posterior de apresentação dos conhecimentos poderá uma análise histórica que privilegie a evolução das ideias fornecer um maior número de contribuições interessantes. Em síntese, a história da ciência pode ser uma fonte importantíssima de inspiração para o professor que procura novos caminhos para aceder à mente dos alunos.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Formação Barrande (Praga, Julho/2005)



segunda-feira, fevereiro 13, 2006

"Elementos de Geologia" (1866) de Charles Lyell


No site http://www.scientiadigital.com é possível encontrar os Elements of Geology de Charles Lyell, publicados em 1866.
Nas páginas 646 a 654 desta obra existem referências a observações realizadas por Lyell na Madeira.

domingo, fevereiro 12, 2006

A origem dos fósseis



A discussão sobre o problema da origem dos fósseis, pode ser subdividida em dois aspectos: a matéria e a forma. O primeiro foi o que mais motivou os filósofos naturais até ao Renascimento. Alberto da Saxónia (1316-1390), seguiu as ideias de Avicena e Alberto Magno, afirmando existir um fluído petrificante (succus lapidificatus, vis plastica, ...) responsável pela transformação dos seres vivos em matéria inerte. Esta concepção estava associada à ideia da existência, no reino mineral, de um ciclo de vida semelhante ao dos seres vivos, de tal forma que os nódulos congregacionários que possuíam uma cavadidade no seu interior eram interpretados como estando em fase de reprodução, sendo a Terra vista como uma matriz onde tudo poderia nascer. A Partir do Renascimento as discussões vão estar mais centradas em aspectos relacionados com a forma dos fósseis.

A imagem procura representar uma pedra 'grávida' (Baush, De Lapide haematite et Aetite)

sábado, fevereiro 11, 2006

Xavier de Almeida, Elementos de Mineralogia e de Geologia (1881)

Xavier de Almeida, F.A., 1881, Elementos de Mineralogia e de Geologia, Lisboa:Livraria Ferreira. (168 páginas)
(Nota: compêndio aprovado pela Junta Consultiva de Instrução Pública para uso nas escolas – Diário de Governo nº99, de 5 de Maio de 1881)

Este manual, de Xavier de Almeida, dedicado ao “seu mestre e amigo o Doutor Pereira da Costa” (1809-1889), divide-se em dois grandes domínios: mineralogia e geologia. Por sua vez, o primeiro subdivide-se em 5 capítulos mais um complementar, e o segundo em 9 capítulos, 4 dos quais dedicados à paleontologia e à estratigrafia:

- Capítulo IV – Fósseis
- Capítulo V – Período azoico e período paleozóico.
- Capítulo VI – Período secundário ou mesozóico.
- Capítulo VII – Período cenozóico.

Depois de apresentar uma definição de fóssil, no capítulo IV, o autor faz referência a diversas classificações de fósseis: segundo a série orgânica (animais e vegetais), segundo o meio em que vivem (terrestres, fluviais, lacustres, marinhos, etc.), segundo a analogia com seres actuais (idênticos, análogos e perdidos) e segundo o grau de petrificação (inorgânicos, semi-orgânicos e orgânicos).
Posteriormente, refere-se às “impressões orgânicas” e “impressões physiologicas”. As primeiras resultado da destruição completa do “corpo orgânico”, restando deste apenas um molde (interior e/ou exterior). Por sua vez, as "impressões physiologicas" correspondem a pegadas de animais, repteis sáurios ou aves. Xavier de Almeida associa a esta classificação as pegadas de um imaginário Labyrinthodonte. É ainda feita referência aos “coprolites”.
Lista, em seguida, os vários processos de fossilização, organizados por: alteração, introdução mecânica, penetração molecular, substituição, conversão química e transformação da estrutura interna. Posteriormente, refere a importância dos fósseis para a geologia, nomeadamente para a definição da sucessão cronológica das formações sedimentares e para a determinação da “ ordem em que os animaes e os vegetaes entraram e saíram da grande scena da vida”( p.106). O autor afirma que, como disse Cuvier, os fósseis são “as medalhas da creação, são elles que nos mostram qual foi a sucessão dos seres organisados desde a formação dos primeiros depósitos sedimentares até aos nossos dias, são elles que nos fornecem os elementos para a distribuição das diversas epochas e períodos geológicos. Cada epocha tem os seus fosseis característicos que se não encontram nem abaixo nem acima dos terrenos que a representam” ( p.107).

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Ainda as bezoar

Imagem pertencente ao tratado Hortus Sanitatis (1497), representando um doente a ser tratado com a pedra bezoar.

As bezoar




Das primeiras classificações mineralógicas faziam parte 'cálculos' produzidos no interior do corpo de animais. Estas 'pedras' foram objecto de grande curiosidade e interesse, desde a Antiguidade Clássica, sendo-lhes atribuídos poderes curativos em vários domínios, ao mesmo tempo que eram consideradas um eficaz antídoto contra todo o tipo de venenos. A mais conhecida foi a pedra de bezoar, introduzida por médicos árabes na Europa medieval, sendo um objecto raro e com poderes considerados miraculosos deu origem à construção de autênticas jóias.

domingo, fevereiro 05, 2006

Latino Coelho (continuação)


Latino Coelho (1825-1891) é autor de uma obra, intitulada A Ciência na Idade Média, da qual fazem parte dois ensaios, 'A ciência na Idade Média e as enciclopédias desse tempo' e, 'O chanceler Bacon'. Este livro tem um prefácio de Pinharanda Gomes.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Miradouro da Lua (Luanda)


(Glória Águas fotografou a bela paisagem que se disfruta do Miradouro da Lua/Janeiro/2006)

Latino Coelho

De acordo com algumas consultas que realizei Latino Coelho (1825-1891) parece ter tido papel importante, principalmente, na organização do museu (Escola Politécnica) e no tratamento das respectivas colecções. As actas do Conselho Escolar assim o evidenciam.
Em 25 de Maio de 1863 é referido ter sido unanimemente aprovado o programa de Latino Coelho para o concurso documental para adjunto naturalista da secção mineralógica do museu, no qual acabou por se admitido Francisco Augusto Xavier de Almeida.
Porém, não encontrei indicação de que o programa da 7ª cadeira tenha sido alterado durante o período em que Latino Coelho a leccionou e considero pouco provável que isso tenha acontecido, por isso admito que o programa antes apresentado seja da autoria de Pereira da Costa, ou eventualmente, e talvez mais provável, que este seja resultado de um trabalho conjunto com outros colegas, uma vez que o programa abrange tópicos muito variados.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Francisco Augusto Xavier de Almeida (?- 1881)

Xavier de Almeida foi aluno da Escola Politécnica e naturalista da secção mineralógica do Museu Nacional de Lisboa. Em 1868, na “Noticia das collecções da Secção Mineralógica do Museu Nacional de Lisboa” identifica-se como naturalista adjunto.

Xavier de Almeida foi aluno da Escola Politécnica de 1860 até 1862. Em 1860, efectuou exame da 7ª cadeira com a classificação de 18 valores. No mesmo ano concluiu a 10ª cadeira (Economia Política e Princípios de Direito Administrativo e Comercial) com 16 valores e Geometria Descritiva com 10 valores. No ano de 1861 esteve matriculado em Chimica Orgânica e Montanistica e Docimasia, mas não existe registo de avaliação. Em 1862, continua a estar matriculado em Montanistica e Docimasia, mas sem registo de avaliação.

De acordo com Machado e Costa (1937), Pereira da Costa o principal impulsionador deste museu preparou “com o maior carinho, o seu antigo discípulo e parente espiritual Xavier d’Almeida, diplomado com o curso geral da Escola Politécnica, para o desempenho consciente das funções de futuro naturalista adjunto para que de facto foi nomeado por Portaria de 31 de Dezembro de 1863”. (p.19)

Voltando à 7ª cadeira

Algumas notas mais sobre a 7ª cadeira, procurando responder à questão do Paulo Legoinha.

O ensino das ciências geológicas concentrava-se na 7ª cadeira – Mineralogia, geologia e princípios de metalurgia. Francisco António Pereira da Costa (1809-1888) foi o seu primeiro titular (nomeado em 3 de Abril de 1840). Regeu a cadeira até 1887, exceptuando o período de 12 anos em que desempenhou funções na Comissão Geológica (1857-69). Quando a Comissão Geológica se dissolve Pereira da Costa regressa à Escola Politécnica (1868).

Em Maio de 1844 José Maria Latino Coelho (1825-1891) foi nomeado lente substituto da 7ª cadeira (este lugar já estava legalmente previsto). Em 1886, foi promovido a professor proprietário. O lugar de lente substituto foi depois ocupado por Francisco Ferreira Roquete (1844-1931) em 1887. Este último foi promovido a lente proprietário em 1892.