Histórias da Geologia

Este blog pretende ser um espaço de reflexão sobre a evolução do conhecimento geológico ao longo dos tempos, principalmente a partir do século XVII, não esquecendo porém as pequenas histórias que fazem a grande história

quinta-feira, abril 27, 2006

Coleccionar ...

quarta-feira, abril 26, 2006

Os Alpes de Saussure

Horace-Bénédict de Saussure (1740-1799), natural de Genebra, destacou-se pelo estudo e exploração dos Alpes ocidentais cujo relato encontramos em Voyages dans les Alpes, précédés d'un essai sur l'histoire naturelle des environs de Genève. O seu sonho, concretizado, era subir até ao topo do Monte Branco e descrever a estrutura dos Alpes, assim como explicar a sua génese.


Figura 1 - Vista do glaciar de Brenva; Figura 2 - Vista das paredes de granito atravessadas por veios que bordejam o caminho de Saint-Gothard; Figura 3 - Mont Rose; Figura 4 - Vista do Monte Branco.

Saussure afirmou que: 'Retraçant alors dans ma tête la suite des grandes révolutions qu'à subies notre globe, je vis la mer, couvrant jadis toute la surface du globe, former par des dépôts & des crystallisations sucessives, d'abord les montagnes primitives, puis les secondaires; je vis ces matières s'arranger horizontalemente par couches concentriques; & ensuite le feu, ou d'autres fluides élastiques renfermés dans l'intérieur du globe, soulever & rompre cette écorce, & faire sortir ainsi la partie intérieur & primitive de cette même écorce, tandis que ses parties extérieures ou secondaires demeuroient appuyées contre les couches intérieures. Je vis ensuite les eaux se précipiter dans les gouffres crevés & vaidés par l'explosion des fluides élastiques; & ses eaux, en courant à ces gouffres, entraîner à distance ces blocs énormes que nous trouvons épars dans nos plaines ...'

William Smith (continuação)





Em 2001, foi publicada uma obra de divulgação, dedicada à figura de William Smith, a qual tem obtido bastante sucesso editorial. O seu autor, Simon Winchester, descreve com pormenor as investigações que conduziram Smith à elaboração da carta geológica das ilhas britânicas, em 1815. Além do extraordinário trabalho e rigor que este mapa revela na sua concepção, ele adquire uma importância acrescida por se considerar que ele é o testemunho de uma revolução no próprio conhecimento geológico.


Smith estabeleceu uma relação entre diferentes litologias e diversos registos fósseis de forma a obter uma evolução temporal de acontecimentos que deixou registados nos seus mapas.

A título de exemplo, Smith descreve as camadas que designou por Cornbrash primeiro através das suas caractaerísticas físicas (soil, subsoil, stratum, water, excavation), para depois indicar a sua extensão e localização em termos geográficos, e, por último, identificar os fósseis que nela encontrou.


1. Natica; 2. Ammonites discus; 3. Modiola; 4. Trigonia costata; 5. Venus Linn; 6. Cardium; 7. Unio ?; 8. Avicula echinata; 9. Terebratula digona.

segunda-feira, abril 24, 2006

Para além das estrelas ...



A curiosidade do homem culto do final da Idade Média surge representada nesta gravura em que um monge parece procurar descobrir as esferas celestes e os seus mecanismos, tentando desvendar o que se ocultava por detrás das aparências. A concepção ptolomaica de Universo foi o modelo astronómico mais amplamente conhecido e aceite na Idade Média.

Nesta época também se acreditava existir uma correlação entre a distribuição dos astros no céu e a distribuição das montanhas e dos vales na Terra. Das estrelas emanava uma 'virtude', à semelhança de um íman, que actuava sobre as formas terrestres.

William Smith (1769-1839)







As imagens anteriores fazem parte de uma obra de William Smith (1769-1893), Strata Identified by Organized Fossils, Containing Prints on Colored Paper of the most Characteristic Specimens in each Stratum (1816). William Smith foi um engenheiro e agrimensor inglês que contribuiu de forma significativa para o início da cartografia geológica ao associar as diversas litologias a determinados tipos de fósseis. O facto de Smith ter estado ligado ao projecto de construção de canais nas Ilhas Britânicas, permitiu-lhe trabalhar em diversos locais familiarizando-se com diferentes tipos de rochas.

Smith escreveu também Map of the Strata of England and Wales e A Treatise for irrigations. O tratado referido no parágrafo anterior pode ser consultado em http://geology.about.com/gi/dynamic/offsite.htm?zi=1/XJ&sdn=geology&zu=http%3A%2F%2Fwww.unh.edu%2Fesci%2Fwmsmith.html

sexta-feira, abril 21, 2006

Les fossiles - música



Ao terminar uma semana passada, em parte, no meio de colecções de fósseis (Museu Geológico), o melhor mesmo é ouvir o Carnaval des animaux de Camille Saint-Saens (1886) onde, entre vários trechos, se encontra um dedicado aos fósseis (Les Fossiles).

William Buckland


William Buckland 150th anniversary symposiumUniversity of Oxford12 August 2006

The Oxford University Museum of Natural History, the History of Geology Group (HOGG) and the Palaeontological Association are meeting together on Saturday 12th August 2006 - the 150th anniversary of the death of William Buckland (1784-1856) for a day of talks on the charismatic William Buckland. The Museum is also mounting an exhibition of his specimens at the Museum.

Programme
10.30 Coffee, followed by a series of 30-minute presentations, as below:
Jim Kennedy (Oxford): Introduction. William Buckland, Biographical Outlines
John Brooke (Oxford). "On Grand, Original Design". Buckland and hisPalaeo-theology
Hugh Torrens (Keele) William Buckland and the transmission of Britishstratigraphic knowledge
Martin Rudwick (San Diego / Cambridge). Buckland, Agassiz and Glacial Theory
Philip Powell (Oxford). New Light on the History of "Megalosaurus"; the Great Lizard of Stonesfield
Simon Knell (Leicester). William Buckland and Museum as Network Hub
Jonathan Topham (Leeds). As much a Newspaper Subject as an Horrid Murder. William Buckland's Bridgewater Treatise
Ralph O'Connor (Cambridge). Journey to the Centre of the Earth: William Buckland and Geological Storytelling.
Phillip Taquet (Paris): Buckland and Cuvier
Claudia Schweizer (Vienna): Pioneers of Palaeobotany: Buckland, Brongniart, Sternberg, and their relations with Schlotheim
Patrick Boylan (Leicester): William Buckland and the early institutionalisation of geology: the Oxford Readership, Geological Society and British Association.

quarta-feira, abril 19, 2006

Terramoto de Benavente - 23 de Abril de 1909



















A 23 de Abril de 1909 registou-se um violento sismo na região de Benavente, referindo a Ilustração Portuguesa que:

'Durante esses segundos inolvidáveis, os alicerces geológicos de Portugal oscillaram, abalados por uma d'essas conflagrações mysteriosas em que periodicamente se debate o igneo organismo do globo. Na falta absoluta de aparelhos registradores nos nossos observatorios, que permitam estabelecer em bases positivas de calculo a duração e a intensidade do abalo sísmico do dia 23, ainda a estas horas é quasi impossivel ás contradictorias narrações impressionistas de descripção scientifica e incontroversa do acontecimento.'

Por sua vez, um residente em Benavente, em carta lida na Câmara dos Deputados, relatava assim a situação:

"(...) não há casas, não temos pão apesar de tanto se ter pedido! E a este respeito diga V. na Câmara que nos mandem pão da Manutenção Militar, pois parece impossível que se deixe estar assim um sem número de pessoas, de crianças, sem lhes dar ao menos pão!! É horrivel! Nós fomos pelos destroços das lojas, buscar caixas que escapassem com bolos, para ao menos as crianças se manterem! Pois, então com uma padaria militar até hoje não nos mandam pão com fartura! Reclame V. isso em nome deste desgraçado povo na Câmara. Há felizmente pouca gente morta, por ora uns 30, mas há muitos feridos de gravidade e outros sem estarem neste estado! (...)

terça-feira, abril 18, 2006

Geo Crítica - revista

Os Cuadernos Críticos de Geografia Humana, da Universidade de Barcelona, possibilitam a consulta online de alguns artigos com interesse para a área da História da Geologia:

- Organicismo, Fuego Interior y Terremotos en la Ciencia Española del XVIII (Horacio Capel)

- La Teoría Física de la Tierra. Una Tesis en la Ginebra del Siglo XVIII (Horacio Capel)

- Paradigmas em Geologia: del Catastrofismo a la Tectónica de Placas (Ian Moffat)

- La Geografía y la Historia de los Sismos (Fernando Rodríguez de la Torre)

Terramoto de San Francisco - 100 anos






Faz hoje exactamente 100 anos que se registou o Terramoto de San Francisco. À semelhança do Terramoto de Lisboa, de 1755, também este sismo foi um marco na evolução da sismologia moderna, suscitando um acréscimo muito significativo de investigação neste domínio. Aliás há quem defenda que a história da sismologia pode ser contada a partir da história dos grandes tremores de terra, tomando como ponto de partida o Terramoto de Lisboa.

No site do U.S. Geological Survey é possível encontrar um dossier completo sobre o tema.

Simulando ...

segunda-feira, abril 17, 2006

Bicentenary of the Geological Society

The Geological Society, founded 13 November 1807, is the oldest national geological society in the world. The History of Geology Group (HOGG) will be holding an international two-day conference on 12-13 November 2007 to celebrate the Geological Society’s bicentenary.

Conference
The conference will focus on the achievements of the Society, the founders, and some of its members and their activities over the past 200 years.
Theme 1: The status of geology in comparison to other sciences in the UK and to geology in other countries around 1807
Theme 2: The foundation and founders of the Society
Theme 3: The first 100 years
Theme 4: Towards the 21st Century

Field trip
The conference will be preceded by a field trip to the Isle of Wight on the 10-11 November 2007 to visit some of the classic geological localities of historic interest.

Dinners
On the evening of 12 November 2007 a dinner will be held in the Connaught Rooms, which now incorporates the Free Mason’s Tavern where the Geological Society was founded. A plaque commemorating the founding of the Society will be unveiled.

On the evening of the 13 November, 2007, the Geological Society will be holding a dinner in the Natural History Museum.

Call for papers
Anyone interested in offering a paper should send an abstract of not more than 300 words to cherry.lewis@bristol.ac.uk to arrive not later than 1 June 2006. Please clearly state which theme your paper addresses. As we anticipate a large number of papers to be offered, we regret we will not be able to include everyone. However, we intend to publish a Geological Society Special Publication based on the conference proceedings in which we will be able to include a much larger number of papers, subject to the normal peer review process.

Register your interest
Anyone wishing to go on the mailing list to receive further information about this event should email cherry.lewis@bristol.ac.uk putting ‘HOGG bicentenary event’ in the subject line.

domingo, abril 16, 2006

500 anos sobre o massacre de 4 000 judeus em Lisboa


“Von dem Christeliche / Streyt, kürtzlich geschehe / jm. M.CCCCC.vj Jar zu Lissbona / ein haubt stat in Portigal zwischen en christen und newen chri / sten oder juden , von wegen des gecreutzigisten [sic] got.” (“Da Contenda Cristã, que Recentemente Teve Lugar em Lisboa, Capital de Portugal, Entre Cristãos e Cristãos-Novos ou Judeus, Por Causa do Deus Crucificado”)

Do blogue Rua da Judiaria, de Nuno Guerreiro, retirámos o seguinte texto: 'Vai fazer exactamente 500 anos, nos dias 19, 20 e 21 de Abril, que um cataclismo se abateu sobre Lisboa. A alma da Capital do Império sofreu um abalo tão grande – senão mesmo maior – quanto aquele que a haveria de destruir em 1755. Durante três dias, em nome de um fanatismo sanguinário, mais de 4 mil pessoas perderam a vida numa matança sem precedentes em Portugal.Como vozes que teimam em emergir de entre as poeiras da História, cronistas como Damião de Góis e Samuel Usque deixaram relatos detalhados dos motins sangrentos (...).

Esta data, de triste lembrança, faz-nos recordar que também após o terramoto de 1531 o pânico que se instalara em Lisboa e região de Santarém fez com que estivesse eminente um novo levantamento contra os cristãos novos, acusados desta vez de estarem na origem do terramoto, por continuarem a judaizar.

Gil Vicente, em carta que enviou de Santarém a El-Rei D. João III, após o terramoto, afirma o seguinte: 'Os frades de cá não me contentaram, nem em púlpito nem em prática, sobre esta tormenta da terra que ora passou, porque não abastava o espanto das gentes, mas ainda eles lhes afirmavam duas coisas, que os mais fazia esmorecer. A primeira , que, pelos grandes pecados que em Portugal se faziam, a ira de Deua fizera aquilo, e não que fosse curso natural, nomeando logo os pecados por que fora; em que pareceu que estava neles mais soma de ignorância que de graça do Espírito Santo. O segundo espantalho, que às gentes puseram, foi que, quando aquele terramoto partiu, ficava já outro de caminho, senão quanto era maior e que seria com eles á quinta-feira, uma hora depois de meio-dia. '

Terramoto de S. Francisco - 1906


Não foi por ontem ter sentido um pequeno tremor de terra que me lembrei que a 18 de Abril passam exactamente 100 anos sobre o grande Terramoto de S. Francisco, na verdade a National Geographic deste mês ao dedicar algum espaço despertou-me para este evento.


Em 1908, foi publicado o primeiro volume de um relatório de Andrew Lawson contendo descrições qualitativas dos efeitos do terramoto. Neste mesmo relatório, num segundo volume, são incluídos ainda sismogramas provenientes de 68 observatórios e um trabalho de Harry F. Reid (1910) sobre os mecanismos dos tremores de terra que conduziu à formulação da Teoria do Ressalto Elástico.

Following the great 1906 earthquake in San Francisco, Henry Fielding Reid examined the displacement of the ground surface around the San Andreas Fault. From his observations he concluded that the earthquake must have been the result of the elastic rebound of previously stored elastic strain energy in the rocks on either side of the fault. In an interseismic period the earth's plates (see plate tectonics) move relative to each other except at most plate boundaries where they are locked. (...) The stored energy is released during the rupture partly as heat, partly in damaging the rock and partly as elastic waves. Modern measurements using GPS largely support Reid’s theory as the basis of seismic movement, though actual events are often more complicated.

Wikipedia

sábado, abril 15, 2006

Mitos e lendas



No passado, as Glossopetraea foram interpretadas como línguas petrificadas de serpentes. S. Paulo que ao naufragar foi ter à Ilha de Malta, teria sido mordido por uma víbora, rogando por isso uma maldição a estes animais que teve como resultado que as suas línguas se transformassem em pedra.

Posteriormente, às 'línguas petrificadas', em particular às oriundas de Malta, era-lhes atribuída a propriedade de neutralizarem os venenos. Por isso, se construiram os 'languiers' que eram colocados sobre as mesas para que os convivas escolhessem uma 'língua' que depois mergulhariam no seu copo de vinho. Deste modo, acreditavam ficarem protegidos contra qualquer tipo de veneno.

A origem das Glossopetraea foi finalmente esclarecida por Stenon.

sexta-feira, abril 14, 2006

Vulcões





quarta-feira, abril 12, 2006

Vulcões




terça-feira, abril 11, 2006

As Eras geológicas de João Bonança

Os posts anteriores fizeram-me recordar da obra de João Bonança, Historia da Luzitania e da Iberia (1887), em que este propõe as seguintes Eras geológicas:

XII Predominihomaria ou actual
XI Glaciaria
X Isothermaria
IX Homaria
VIII Angiospermaria
VII Mammiferaria
VI Aviaria
V Reptilaria
IV Piscinsectaria
III Anneledicrustaciaria
II Transitorial
I Estelaria

A alteração das designações já propostas por outros autores, acompanhada de estranhas justificações, é uma constante na obra. Quanto às numulites diz-nos Bonança que examinando os seres da Era Homaria verificou que: 'nesta era, encontrámos com uma distribuição geral e caracteristica dois tipos, dividndo os chamados terrenos terciários em duas secções correspondentes a duas idades geológicas, das quais a primeira é caracterizada pelos foraminiferos do género nummulita, a segunda pelos proboscidos do género mastodonte: chamaremos pois à primeira idade da era homaria nummulitiana e mastodontiana'.

segunda-feira, abril 10, 2006

Nummulites






1. Numulites gizhensis (origem: Egipto)

2. Numulites orbiculatus (Ernst Haeckel, 'Kunstform der Natur')

Kirkpatrick na ilha de Porto Santo


A última entrada que fiz remeteu-me para um texto de Stephen Jay Gould, inserido no livro Polegar do Panda, e intitulado 'O velho louco Randolph Kirkpatrick', em que o autor refere sobre este naturalista o seguinte:

'O destino usual de um excêntrico é o esquecimento, e não a infâmia. Ficarei mais do que medianamente surpreendido se qualquer leitor (que não seja um taxonomista profissional com interesse especial em esponjas) puder identificar Randolph Kirkpatrick.
À primeira vista, Kirkpatrick adapta-se ao estereótipo de um apagado, urbano, dedicado, mas levemente excêntrico, zoólogo britânico. Conservador-assistente do sector invertebrados «inferiores» no Museu Britânico , de 1886 até à sua reforma, em 1927, Kirkpatrick estudou Medicina, mas decidiu-se por uma «carreira menos esforçada» na História Natural, após vários períodos de doença. Escolheu bem, já que viajou por todo o mundo em busca de espécimes e viveu até aos 87 anos.' (p. 255)

Mas, a parte que mais me interessou ao reler este texto foram as suas investigações em Porto Santo:

'Em 1912, Kirkpatrick encontrava-se a reunir esponjas na ilha de Porto Santo, do arquipélago da Madeira. Um dia, um amigo trouxe-lhe algumas rochas vulcânicas retiradas de um cume, 350 metros acima do nível do mar. Kirkpatrick descreveu a sua grande descoberta: «Examinei-as cuidadosamente sob o meu microscópio binocular e, para meu espanto, encontrei traços de discos numulíticos em todas elas. No dia seguinte visitei o local de onde provinham os fragmentos»' (p. 256)

Mais à frente, Gould reproduz outra estranha afirmação de Kirkpatrick:

'Após a descoberta da natureza numulítica de quase toda a ilha de Porto Santo, das construções, lagares de vinho, solo, etc., o nome Eozoon portosantum pareceu-me bem adaptado para os fósseis (Eozoon significa «animal primevo»), mas quando as rochas ígneas da Madeira foram do mesmo modo identificadas como numulíticas, Eozoon atlanticum pareceu-me um nome mais apropriado'. (p. 257)

Eozoon canadense - os problemas das classificações

When William Dawson established Eozoon canadense, he hailed this fossil as "one of the brightest gems in the scientific crown of the Geological Survey of Canada".

To many mid-Victorian geologists and paleontologists these laminated green and grey rock specimens from altered limestones of the Canadian Shield of Ontario and Quebec were the most important fossils ever found because they constituted evidence of the existence of complex life forms deep in the Precambrian. J. William Dawson, the Principal of McGill University and one of the foremost geologists in Canada, named the fossil Eozoon canadense -- the Canadian dawn animal. In his presidential address to the British Association for the Advancement of Science in 1864, Sir Charles Lyell singled out this fossil as "one of the greatest geological discoveries of his time". Charles Darwin, in the fourth edition of Origin of Species in 1866, was relieved to be able to cite the first fossil evidence that the succession of life on earth proceeded from simple unicellular organisms to complex multicellular animals and plants.

Dawson concluded that Eozoon was the shell of a foraminiferan, a single-celled protistan complete with chambers and canal systems, but one hundreds of times larger than any of the living forms which are all microscopic. This view was almost immediately challenged by a pair of Irish geologists who claimed that Eozoon was not organic, but a metamorphic feature formed from the segregation of minerals in marble through the influence of great heat and pressure. For the next ten years, increasingly acrimonious debates on the nature of Eozoon appeared in British and American journals. An exhaustive analysis by a German professor of zoology, Karl Möbius in 1879 demonstrated that Eozoon displayed not a single characteristic trait of foraminiferans. This settled the matter for virtually all geologists and paleontologists, but not Dawson.

Compelling evidence came from an unlikely source in 1894 when two geologists reported Eozoon in limestone blocks ejected from the volcano Mount Vesuvius. Precambrian fossils shot out of an Italian volcano was something few paleontologists were prepared to accept. Undeterred, but virtually alone in the geological community, Sir William continued to defend the organic nature of Eozoon. When he died in 1899 he was working on yet another Eozoon paper.

(informação recolhida no site do Geological Survey of Canada)

O naturalista do Museu Britânico Randolph Kirkpatrick (1863-1950), que visitou a Madeira e Porto Santo, afirmou ter encontrado Eozoon canadense nesta última ilha.

A propósito do problema das classificações no domínio da paleontologia: 'The history of paleontology shows what difficult it has had to face and which continue to lie ahead. Late into the 18th century it was disputed wheter fossils were representations of organisms or products of a vis plastica, 'tricks of nature', which only accidentally resembled the shapes of plants and animals. Even today 'pseudofossils' are known, structures of inorganic origin which resemble organic remains. 'Problematica' are structures and shapes in sedimentary or methamorphic rocks whose organic origin is dubious. Up till certain structures in Precambrian strata constituted such problematica. These were called 'Eozoon bavaricum' in the Bavarian Forest, and 'Eozoon canadense' in Canada, and are now attributed to marine algae.' (Engelhardt e Zimmermann, Theory of Earth Science, p. 119)

sábado, abril 08, 2006

Corte geológico da cidade de Coimbra

Numa obra, de 1926, intitulada GEOLOGIA (Grandes Divisões da História da Terra), o seu autor, J. M. Corrêa Cardoso, sugere várias excursões geológicas, para serem realizadas com alunos do ensino liceal, entre elas a seguinte ('corte geológico da cidade de Coimbra'):

'Na cidade de Coimbra, um corte efectuado do Alto de Santa Clara a Santa Teresa, na direcção SO-NE, (...). Sob o ponto de vista geológico, no Alto de Santa Clara, encontramos camadas espessas de calcários, por vezes de cor ferruginosa, muitissimo pobres em fósseis ( nas pedreiras da Guarda Inglesa, a 400 metros aproximadamente para NO, do Alto da Santa Clara, apenas se encontra um ou outro lamelibrânquio); aparece na massa de um ou outro estrato, alguma amonite - são estes fósseis muito raros; os estratos são separados por camadas de argila sem fósseis, (...). As camadas que acabamos de descrever são as chamadas Camadas de Coimbra (...).

Em escavações feitas no Arco de Almedina forram reconhecidos calcários liássicos. Apresentam-se amarelados, sem fósseis e fortemente dolomiticos. São os calcários sobre que assenta a Universidade (Torre, Biblioteca, etc.) e o Laboratório de Química. Em Mont'Arroio, aparecem os mesmos calcários (liássicos) que também se veem junto do Liceu e sobre que assenta o muro da Cerca do Hospital da Universidade.

Um pouco para SE., já o Arco de S. Sebastião assenta sobre terrenos arenosos: arenito ou saibro claro, cimentado, com seixos rolados na sua massa, (...). Os mesmo arenitos encontramos nós na Ladeira do Seminário, (...); é o terreno sobre que assenta o quartel do R.I. 23, e em que foram abertas as ruas próximas onde podemos seguir a orientação dos estratos. Estes terrenos passam por baixo das formações calcárias de que falamos; são já as camadas de transição para o Liássico, (...).

Em Santa Teresa (...) aparecem-nos arenitos grosseiros, tenros e acizentados à superfície; mais duros para a profundidade. O flanco oriental (...) que se observa do Penedo da Saudade, sob a acção dos agentes de erosão sofre desabamentos cujos detritos, por fim, se vão acumulando (...).'

Embora no texto sejam feitas inúmeras referências a fotografias elas devem ter sido editadas à parte, não me tendo sido possível consultar esta documentação. Esta obra foi redigida para submissão ao Exame de Estado na Escola Normal Superior da Universidade de Coimbra (Magistério Liceal, 6º Grupo - Secção de Ciências Histórico-Naturais), tendo o autor escolhido como tema da sua dissertação: 'Grandes divisões da história da Terra; caracteres gerais das eras primária, secundária e terciária; caracteres muito gerais de cada um desses periodos'. Destacamos ainda uma afirmação de Correa Cardoso: 'Num curso da 7ª classe, acompanhá-lo-íamos de excursões, sempre que fosse possível, e as restantes lições seriam no museu na presença de exemplares (rochas, fósseis, modelos, etc.) quadros parietais, projecções luminosas, com diapositivos, estampas de livros, outros desenhos, etc., levando sempre os alunos a registar as suas notas, num caderno, com ligeiros desenhos elucidativos, fotografias, etc. Das excursões (passeios geológicos), resultaria ainda a colheita de exemplares (de rochas, fósseis, etc.) com que seria enriquecido o museu do Liceu'.

Erupções vulcânicas





William Hamilton, Les Fureurs du Vésuve





quarta-feira, abril 05, 2006

Leituras



A romancista americana Jean Auel é autora de uma obra publicada em vários idiomas, Os caçadores de mamutes (1985), baseada em trabalhos de investigadores checos e russos. A história decorre entre os 35 000 e os 22 000 anos atrás, num período de subida das temperaturas (Wurm IV).

terça-feira, abril 04, 2006

Os mamutes



No último fim de semana, o suplemento cultural do jornal Expresso anunciava deste modo a chegada às salas de cinema do filme Idade do Gelo 2:

Um amor de mamute
O regresso dos três amigos jurássicos

Interpretamos o uso do adjectivo jurássico, neste contexto, como mais um exemplo de introdução de um termo científico na linguagem comum, embora com alteração do seu significado. Porém, importa referir que os mamutes só apareceram há 400 000 anos e extinguiram-se há cerca de 10 000 anos, ou eventualmente menos.


Claudine Cohen, em Le destin du mammouth (1994), integra o estudo dos mamutes no âmbito da História da Paleontologia, recolhendo e analisando as diversas lendas e fábulas que ao longo da história da humanidade foram surgindo, associadas a estes animais. Os 'ossos de mamute' dos indígenas siberianos, foram referidos pela primeira vez por um viajante holandês Nicolaas Witsen, em Description de la Tartarie (1692), não sendo de imediato interpretados como pertencentes a um animal desaparecido. Até ao século XVII muitos acreditavam tratar-se de produtos da terra, 'jogos da natureza' ou 'pedras figuradas', nascidas de sementes transportadas por canais subterrâneos até ao interior das montanhas. Em determinado momento também se pensou que poderiam ser ossos de gigantes ou de elefantes. Esta última hipótese levou a que até finais do século XVIII se discutisse o motivo da presença destes animais nas zonas geladas da Europa e da América: teriam sido transportados pelas águas do 'Dilúvio', ou seriam elefantes africanos pertencentes à armada de Aníbal que posteriormente teriam fugido para o Norte? Ou, seriam muito simplesmente ossadas de animais desconhecidos que viveriam escondidos nalgum local? Em refutação a estas fábulas Cuvier, em 1796, demonstrou, em Mémoire sur des espèces d'Eléphans, tant vivantes que fossiles, que estas ossadas pertenciam a uma espécie extinta num dos vários cataclismos que admitiu terem ocorrido durante a História da Terra.

Adaptado de Cohen (1994), Le destin du mammouth

Terramoto de Lisboa


Foi finalmente publicado o 4º volume da colecção que a Fundação Luso-Americana e o Público editaram no âmbito das comemorações do 250º aniversário do Terramoto de Lisboa.

Este livro reproduz em fac-simile, seguido da respectiva tradução, uma obra importante e dificil de encontrar, de John Michell (1724-1793): Conjectures concerning the cause et observations upon the phaenomena of Earthquakes, particularly of great Earthquake of the 1 of November 1755, which proved so fatal to the city of Lisbon, et whose effects were felt as far as Africa, et more or less throughout almost all Europe.

Para além deste texto, encontramos também do Padre António Pereira de Figueiredo o Comentário Latino e Português sobre o terramoto e incêndio de Lisboa (1756).

segunda-feira, abril 03, 2006

De re metallica - Agricola - comemoração


Faz este ano 450 anos sobre a publicação do tratado De re metallica da autoria de Georg Bauer (1494-1555), conhecido por Agricola. Este livro, profusamente ilustrado , trata de assuntos mineralógicos e problemas relativos à exploração mineira. O facto de Agricola ser oriundo da Saxónia e de ter vivido grande parte da sua vida nessa região, terá condicionado certamente os seus interesses. A Saxónia era uma região mineira rica o que a tornou um local privilegiado para o desenvolvimento da mineralogia como ciência.


Gravuras representando diversos métodos de lavagem de aluviões auríferos